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  • Foto do escritorDanielle Lins

Preparação e domínio na escola da vida

Atualizado: 30 de jan. de 2020

A lucidez de dona Angelita é surpreendente. Ela fez algumas anotações para não esquecer dos detalhes. Crédito: Karlla Dayanne
A lucidez de dona Angelita é surpreendente. Ela fez algumas anotações para não esquecer dos detalhes. Crédito: Karlla Dayanne

O tempo é implacável. Foi com essa afirmação que dona Angelita Soares das Neves, de 83 anos, demonstrou total lucidez e conhecimento durante a entrevista. Com o caderno de anotações nas mãos, ela fez questão de relatar o máximo de detalhes do período em que foi professora na cidade de Vitória de Santo Antão. “Eu sempre tive muito prazer pela minha profissão. Entrava satisfeita na sala de aula e saia feliz”, conta.


Dona Angelita fez Pedagogia na Fafire, além de Geografia e História na FAINTVISA. Ensinou na Escola Municipal Mariana Amália, no grupo Pedro Ribeiro, no Colégio Estadual da Vitória, na Escola das Damas, passou no concurso do Estado e foi ensinar o primário no Antônio Dias Cardoso. “Depois que eu fiz o curso da FAINTVISA para o 2º grau comecei a trabalhar com alunos de 5ª a 8ª série. Surgiu um concurso para supervisor e passei, então assumi a supervisão da Escola Polivalente José Joaquim da Silva Filho”, relembra.


Na Escola Polivalente, dona Angelita trabalhava diretamente com os professores do primário e da 5ª a 8ª série, sempre com uma postura pacífica e compreensível diante dos professores, ela era admirada e respeitada por todos. “Eu tinha 60 professoras trabalhando comigo e era responsável pelas avaliações e aulas delas. Se perguntarem a alguma ex-professora minha hoje ela vai dizer: Angelita é uma pessoa que eu tenho admiração porque ela nunca disse: “Faça! Mas sim: Vamos fazer!”Quando a professora não tinha segurança no conteúdo, ela vinha preparar a aula comigo. Rosimere Prado, por exemplo, dizia: Eu procuro Angelita Soares porque ela sabe o que está fazendo”, detalha sorrindo.


No relacionamento com os alunos, dona Angelita transmitia segurança no conteúdo, sabia lidar tanto com meninos quanto com trabalhadores da roça. “Se eu subia no palco, eu dominava aqueles alunos todinhos e os professores. Com um alto falante passava a orientação que recebia do DERE. Meus alunos do cultivo de laranja perguntavam se eu nunca tinha raiva porque só entrava na sala de aula feliz. Uma vez, um vendedor de mapas abordou os meus alunos na escola dizendo que ia acontecer a fusão do Estado da Guanabara com o Rio de Janeiro. Um aluno meu disse a ele que eu não iria comprar o mapa porque eu já sabia e tinha ensinado a eles. Quando dei duas horas de aula sobre dunas, um aluno olhou e disse: essa professora sabe de mais”, recorda contente.


Dona Angelita confessa que estudava bastante antes de dar aula, enchia a mesa de livros, se preparava através de cursos como o de Suficiência na Universidade Federal de Pernambuco. “Meu dia a dia era muito trabalhoso porque eu tinha uma sogra de idade dentro de casa que dizia desaforo comigo e ao meu marido, tinha que acompanhar a educação dos cinco filhos, alguns mais trelosos. Meu marido, com quem vivi 50 anos, aceitava muito as minhas coisas, ele era cuidadoso comigo, e sabia que não podia cuidar da casa direito porque passava o dia todo na escola”, afirma.


Hoje com a saúde debilitada, Dona Angelita se aposentou há 18 anos e, em 2003, ficou viúva. “Eu fui muito bem sucedida no meu trabalho e com os meus filhos. Estão todos formados e trabalham. Não se pode desistir, temos que ser persistentes nos nossos ideais de mãe, dona de casa e profissional. Mesmo com todas as dificuldades não desprezar os filhos porque amanhã eles serão o resultado do que recebeu de nós”, conclui.


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